QUINTA, 20 de AGOSTO 2020: Aqui estão as principais notícias para você começar o dia bem-informado



25 de janeiro de 2015

O MÁGICO QUE MATA A COBRA E MOSTRA O PAU


Raimundo Ferreira Sousa
Capa do livro “As Anedotas do Jaime Lira”
Em meados da década de 1970, mais precisamente em setembro de 1976, por ocasião dos festejos religiosos do co-padroeiro São Francisco, aportou na então pequena e pacata Massapê, o modesto, mas divertido circo “Muruarama”, montado por detrás do posto de gasolina Texaco de propriedade do comerciante Ubiratan Vasconcelos. A família Acádia de origem canadense, tradicionalmente na 5ª geração circense, constituída dos irmãos Washington, Walas e Wurias, deixou eternas saudades e dezenas de corações partidos (e mais alguma coisa), quando daqui foi embora para se apresentar em outras cidades e nunca mais voltou. A empanada do circo (cobertura de lona) que mais parecia um queijo suíço, ao final da divertida e longa temporada (inédita) que durou dois meses, foi substituída por outra novinha em folha, gentilmente doada pelo saudoso prefeito Beto Lira (1964/1967 e 1977/1982). A atração principal da trupe, evidentemente além do palhaço Batatinha (que flertou dezenas de donzelas da então aristocrática e preconceituosa sociedade massapeense), era o mágico, que só não fazia chover. Os espectadores assistiam a um show de magia e encantamento jamais visto em nossa cidade. O circo, um campeão de bilheteria; o mágico, a estrela do picadeiro. Para os freqüentadores de carteirinha que assistiam religiosamente às sessões, referido artista era tido por feiticeiro, bruxo, macumbeiro, mago, ou até mesmo um ser do outro mundo – a personificação do diabo, dada às suas bizarras e misteriosas mágicas (de escapismo, levitação e ilusionismo), que impressionava e deixava o respeitável público de queixo caído. Tinham mágicas impactantes, de manter a platéia tensa, ao ponto do mestre de cerimonial solicitar aos pais para retirar as crianças do ambiente e/ou vendar seus olhos e tampar ouvidos, exemplos: a mulher de pés juntos que lentamente emergia de um caixão fúnebre e flutuava no ar por alguns segundos; o engolidor de enormes e afiadas espadas que desciam goela adentro; a desafiadora serra elétrica que num piscar de olhos dividia em dois o assistente de palco, e muito mais. Em uma época que o povo não tinha acesso a tecnologia atual (TV, celular, internet, etc.), estas coisas só se via ao vivo, via de regra, anualmente por ocasião da vinda de um circo à cidade interiorana, de modo que, quase tudo era novidade. De camarote, o boêmio latino americano cognominado pela vã filosofia popular de “Parea” - Jaime Lira (*02/06/1944 +19/07/1995), “pra lá de Bagdá”, alardeado de meia dúzia de lindas mulheres oriundas dos tradicionais cabarés Piauí e Dosinha (Sobral), que ele havia trazido no Corcel I, ano 74, cor verde, fretado com o chofer de praça Aroldo (de saudosa memória), e patrocinado o acesso àquele divertido e milenar anfiteatro itinerante intercontinental. Foi quando o mágico convidou um voluntário da platéia para participar de um simples número, um truque. Quem se atreveu? Jaime Lira é claro. No picadeiro, o ilusionista o interpela e pergunta qual seu estado civil. “Casado e bem casado” – foi esta, a taxativa resposta. E, num simples e cordial cumprimento com aperto de mãos, sua aliança sumiu. Indagado se usava o símbolo que une o casal no matrimônio católico apostólico romano, Jaime Lira depressa levantou a mão esquerda afirmando que “sim, s-sim... s-sim”... Mas onde estava sua aliança, cunhada em ouro 18 kilates, que desde a formalização do casamento, jamais havia desgrudado do “seu vizinho”??? A seguir, transcrição do diálogo entre os dois protagonistas, vazada nos seguintes termos:

- Cadê a minha aliança??? Se eu chegar em casa sem ela minha mulher Socorro me mata! Seu capeta devolva a minha aliança?

- Exijo respeito! Eu sou um mágico. Faço mágicas, não obro milagres.

- Desculpe-me, seu mágico. Mas pelo amor de Deus, devolva a aliança, senão eu levo uma surra da minha mulher – desabafou Jaime Lira, derramando lágrimas de crocodilo, implorando de joelhos e mãos póstumas. 

- Sua aliança foi transportada pela força do meu pensamento para uma das belas acompanhantes acomodadas lá no seu harém, ou melhor, camarote especial.

E não é que o anel simbólico realmente lá estava! É que neste interregno, o assistente de palco (outro mágico descaracterizado) foi ao encontro das “moças” e ao cumprimentá-las uma a uma, disfarçadamente colocou a aliança no dedo de uma delas, que estava visivelmente alcoolizada. E para surpresa do nosso protagonista, das mulheres de vida fácil (?), bem como, da platéia em geral, a aliança enfim foi devolvida ao seu legítimo dono – Jaime Lira que, deveras refeito do baita susto, como forma de se vingar do artista circense, de viva voz lançou a desafiadora proposta:

- Pois eu quero vê se você é mesmo um bom mágico!...

- Às suas ordens – respondeu convicto, o experiente artista.

- Seu mágico, eu amo a minha esposa, mas, infelizmente odeio a minha sogra. Faça aquela fuleira (é o novo!) que estar acomodada lá na “geral”, desaparecer definitivamente da minha vida???

- Eu já lhe disse que sou um mágico, não sou o anticristo – se justificou o entretecedor, enquanto o nosso saudoso Jaime Lira que passava por séria crise de abstinência sexual conjugal havia uma quarentena, segundo ele, se reencarnou no Mágico de Oz., indo ao encontro da ávida platéia sob a penumbra da meia luz, com a braguilha da sua indumentária completamente escancarada (não usava cueca), em flagrante conflito com a lei, prestes à prática de atentado violento ao pudor, se exibindo especificamente para aquele seleto grupo de mulheres geometricamente esculturais, em tom de grave ameaça. Balbuciava ele reiteradas vezes: “eu mato a cobra e mostro o pau”. Cá entre nós, Jaime Lira em estado de fúria jumentina, regrediu aos instintos mais primitivos da natureza humana, imitando o quadrúpede bíblico de tração e carga, rinchando escandalosamente. Acredite se quiser, a olho nu, o “animalesco” media aproximadamente 30 cm de comprimento – um exemplar raro se comparado com o padrão normal do símbolo da masculinidade do ser humano. Em outras palavras, um jumento batizado.

Dos livros: Estórias & Casos com Causos & Histórias de Massapê e As Anedotas do Jaime Lira – autor: Ferreirinha de Massapê.
Postagem mais recente Postagem mais antiga Página inicial

0 comentários:

Postar um comentário